Herança de bens digitais: entenda seus direitos

No cenário atual, onde a vida digital é parte fundamental do cotidiano, a questão da herança de bens digitais ganha cada vez mais relevância. Com o aumento do uso de contas em redes sociais, carteiras digitais, criptomoedas, e até mesmo bibliotecas virtuais de livros e músicas, surgem dúvidas importantes sobre o destino desses bens após o falecimento de uma pessoa. Como os herdeiros podem acessar e administrar esse patrimônio digital? E como garantir que esses ativos sejam devidamente incluídos no planejamento sucessório?

herança de bens digitais

O que são bens digitais?

Bens digitais referem-se a qualquer ativo ou conteúdo que esteja armazenado em formato eletrônico. Esses bens podem incluir:

  • Contas em redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, etc.);
  • Criptomoedas e carteiras digitais;
  • Arquivos armazenados em nuvem (fotos, vídeos, documentos);
  • Bibliotecas digitais de músicas, livros ou filmes (Spotify, Amazon, Google Play);
  • Domínios de websites;
  • Contas em plataformas de comércio eletrônico (Amazon, eBay).

Esses ativos, embora muitas vezes intangíveis, têm valor financeiro e sentimental, e podem se tornar uma parte relevante do inventário de uma pessoa.

Bens digitais no Direito Sucessório

No Brasil, a legislação ainda não dispõe de normas específicas que regulem a herança de bens digitais. No entanto, é possível tratar esses ativos dentro do planejamento sucessório, aplicando-se princípios gerais do direito civil e da sucessão.

O artigo 1.788 do Código Civil estabelece que, com a morte, o patrimônio do falecido transmite-se imediatamente aos herdeiros. Assim, entende-se que, na ausência de disposições específicas, os bens digitais podem ser considerados parte desse patrimônio e, portanto, também transmitidos aos sucessores. Contudo, o processo para acessar e administrar esses bens nem sempre é simples.

Desafios do acesso aos bens digitais

Um dos principais entraves ao processo de transmissão de bens digitais é o acesso às contas e plataformas em que esses bens estão armazenados. Muitas vezes, os termos de uso das plataformas online não são claros sobre o que acontece com os dados e ativos após o falecimento do titular da conta. Além disso, as senhas e sistemas de segurança, como a autenticação em dois fatores, podem impedir o acesso dos herdeiros.

Plataformas como Facebook e Google já oferecem a possibilidade de nomear uma pessoa de confiança para gerenciar a conta após a morte do usuário. Contudo, isso não é uma solução universal e, muitas vezes, os herdeiros precisam recorrer a processos judiciais para obter o controle desses ativos digitais.

Como incluir bens digitais no planejamento sucessório?

Para evitar problemas e garantir que os bens digitais sejam devidamente transmitidos, é recomendável que o titular desses ativos inclua orientações claras no seu planejamento sucessório. Isso pode ser feito por meio de um testamento ou de uma carta de instruções, que detalhe:

  • Quais bens digitais devem ser transmitidos;
  • Quais pessoas serão responsáveis por administrar esses bens;
  • Senhas e acessos necessários para gerenciar as contas.

Além disso, é essencial que as senhas e informações de segurança sejam armazenadas de forma segura e confiável, para que os herdeiros possam utilizá-las no momento apropriado.

A importância de consultar um advogado especializado

Dada a complexidade da questão e a ausência de uma regulamentação específica, é essencial buscar orientação jurídica para tratar da herança de bens digitais. Um advogado especializado em direito sucessório poderá ajudar a elaborar um planejamento que contemple esses ativos, garantindo que eles sejam devidamente protegidos e transmitidos aos herdeiros.

Conclusão

A herança de bens digitais é uma questão cada vez mais presente na realidade jurídica. Com o crescimento do uso de plataformas digitais e o acúmulo de ativos intangíveis, é fundamental que as pessoas estejam cientes dos seus direitos e dos cuidados necessários para garantir a correta transmissão desses bens. Consultar um advogado e preparar um planejamento sucessório adequado são passos essenciais para evitar complicações futuras e assegurar que o patrimônio digital seja preservado e repassado da forma desejada.


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